segunda-feira, maio 26, 2008

Saudades

Ontem me lembrei de quando a minha vó tinha uma rua e na rua da minha vó tinha fogueira de São João... E a gente era criança, a vizinhança fechava a rua e fazia fogueira de São João... E tinha pipoca e tinha quentão, tinha algazarra de montão, mas o que a gente mais gostava mesmo era da fogueira, aquela fogueira enorme e linda, de São João!
Na época, óbvio, eu não tinha ainda noções ambientais suficientes pra criticar aquilo, hoje sim, no entanto não posso criticar, um pouco porque é passado, outro pouco porque era tão lindo, uma união que atualmente não se vê, cada vizinho fazendo uma coisa de comê, as porta aberta pra quem quisesse entra e depois a reunião em volta da fogueira, os olhinho da gente brilhava que nem labareda. As fogueiras tem significados diversos, há vários rituais que as utilizam... e a julgar pela minha lembrança daquelas noites frias aquecidas pelo encontro em torno da fogueira eu diria que ela gera alegria, esperança e mostra bem como a gente queima, ao longo da vida, até virar pozinho de gente...
Ai que saudades da fogueira de São João que se fazia na rua da minha avó (e, claro, saudades também da minha avó, que deusinho a guarde!).

(os erros de concordância são em homenagem à minha avó, que sempre esquecia o plural)

segunda-feira, maio 19, 2008

E daí?



Eu gosto de Bridget Jones, assisti ao filme várias vezes, gosto e daí?
Eu tenho pêlo nas pernas e os detesto, detesto!!! e daí?
Eu não gosto de futebol (exceto para ver as pernas dos jogadores) e daí?
Eu não gosto de homens atirados, prefiro os tímidos, e daí?
Eu gosto de música brasileira, amo Chico Buarque, e curto Oswaldo Montenegro, e daí?
Eu como salada e faço dieta e me acho gorda e faço academia só porque sou gorda, e daí?
Eu acho o Colin Firth lindo, queria beijar ele na boca, acho ele um lord inglês legítimo, sei que ele é só um ator e que tem lá seus defeitos... mas... e daí?
Eu choro em comédias românticas, acho lindas as histórias de amor... e daí?
E daí que se eu continuar assim vou ficar sozinha para sempre e o pior de tudo é que a única coisa que consigo fazer a respeito é pensar: e daí?

domingo, maio 18, 2008

Amores Líquidos



Todos sabemos o que é isso, afinal de contas é impossível viver no mundo em que vivemos e não experimentarmos o que ele nos oferece, por mais que se converse sobre isso, por mais que queiramos que seja diferente não se pode evitar as influências diretas ou indiretas que a cultura exerce sobre nós. Os relacionamentos humanos não são mais os mesmos, já não temos necessidade de nos suportarmos mutuamente de tal modo que "tudo que é sólido se desmancha no ar"...
Zigmunt Bauman mostra bem em que ponto estamos com relação a isso em seu livro "Amor Líquido", a fragilidade dos laços humanos (ou daquilo que atualmente denominamos laços), das relações fortuitas e fáceis que buscamos atualmente, do "estar junto" com um significado diferente daquele que nossos avós entendiam...
E assim vivemos, nenhum de nós é imprescindível, insubstituível: relações voláteis para seres humanos volúveis!
Somos todos circunstanciais na vida uns dos outros...
Mais, on peux vivre ainsi?? Il est bien pour nous??
Pour moi non... mais... qu'est-ce-que je peux faire?!!

quinta-feira, maio 15, 2008

Assim é... assim sou...

PAGU (Rita Lee e Zélia Duncan)

Mexo, remexo na inquisição
Só quem já morreu na fogueira
Sabe o que é ser carvão
Uh! Uh! Uh! Uh!...

Eu sou pau prá toda obra
Deus dá asas à minha cobra
Hum! Hum! Hum! Hum!
Minha força não é bruta
Não sou freira
Nem sou puta...

Porque nem!
Toda feiticeira é corcunda
Nem!
Toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho
Que muito homem
Nem!
Toda feiticeira é corcunda
Nem!
Toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho
Que muito homem...

Ratatá! Ratatá! Ratatá!
Taratá! Taratá!...

Sou rainha do meu tanque
Sou Pagu indignada no palanque
Hanhan! Ah! Hanran!
Uh! Uh!
Fama de porra louca
Tudo bem!
Minha mãe é Maria Ninguém
Uh! Uh!...

Não sou atriz
Modelo, dançarina
Meu buraco é mais em cima
Porque nem!
Toda feiticeira é corcunda
Nem!
Toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho
Que muito homem...

Nem!
Toda feiticeira é corcunda
Nem!
Toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho
Que muito homem...(2x)

Ratatá! Ratatatá
Hiii! Ratatá
Taratá! Taratá!...

http://www.youtube.com/watch?v=TmtLaFLa9vw

quarta-feira, maio 14, 2008


Dinheiro pra quê?

São Paulo, quarta-feira, 14 de maio de 2008


Câmara aprova medida que é alvo de ambientalistas

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

No mesmo dia em que Marina Silva (Meio Ambiente) entregou sua carta de demissão, a Câmara aprovou uma medida provisória que, na visão de ambientalistas, pode contribuir para o desmatamento na Amazônia.
A MP, que segue para o Senado, amplia de 500 para até 1,5 mil hectares a área que pode ser concedida pela União na Amazônia Legal sem licitação. A proposta também permite ao proprietário desmatar até 20% de sua propriedade. Pelo texto, a dispensa de licitação fica condicionada à observância do zoneamento ecológico e econômico da Amazônia.


Observem com que seriedade o problema ambiental é tratado no Brasil, Marina Silva bem o sabe, já que pediu demissão, o Governo Lula não deve saber, já que nunca sabe de nada... e o restante da população se divide entre "os que não sabem, os que não querem saber e os que tem até raiva de quem sabe"...
O problema do meio ambiente é atualmente um dos mais sérios que temos, mais sério que a fome, que a pobreza (aliás não deixam de estar associados todos esses problemas) porque o problema do meio ambiente é o problema da manutenção da espécie humana, algumas pessoas parecem não perceber que destruindo o planeta estamos destruindo nossa única atual possibilidade de vida (que eu saiba a lua ou outros planetas ainda não podem ser habitados, a não ser que o governo americano já esteja fazendo aldeias por lá e não tenha nos contado)...
E esse desprezo pelo problema denota o desprezo pela própria espécie, a pergunta que não quer calar nesse caso seria: que espécie de homens são esses, que negam o direito à vida a todas as gerações futuras?
Será que o dinheiro e esses breves momentos de poder valem todas essas gerações futuras?

domingo, maio 11, 2008

Dia das mães



Foi há exatos 6 anos atrás que se deu meu primeiro dia das mães. Aliás a história da Mari é muito bonita, ela é muito especial: foi feita num dia de São Jorge, eu descobri que estava grávida (com um teste de gravidez de farmácia) no segundo domingo de maio, dia das mães... e ela nasceu em 6 de janeiro, dia de Reis...
E eu suspeitei que estava grávida porque comecei a acordar feliz todos os dias, e nunca tinha sido assim antes, daí pensei logo: tem algo errado comigo (e na verdade tinha algo certo comigo)...
E aconteceu, aconteceu como nas histórias mais lindas, ela foi desejada, amada... e surgiu como um raio de sol que vai iluminando meus passos...
Eu sei, tenho plena noção de que às vezes eu faço coisas que não deveria fazer, que falo coisas que não deveria falar, que sinto coisas que não deveria sentir, sei que exijo demais dela e também de mim e que ambas sofrem um pouco por isso, no entanto eu tenho tanto orgulho de ser mãe dela, porque todo mundo fala tão bem dela onde quer que ela vá, nunca tive reclamações, na escola é um amor, na casa dos outros é um amor... é obediente, amorosa, inteligente, me surpreende a cada dia com as coisas que diz e eu sei que eu sou melhor do que eu era por causa dela, eu sei que consigo suportar coisas insuportáveis porque ela existe...
Fiquei mais medrosa depois que virei mãe, mas também fiquei mais responsável e mais preocupada com o mundo, porque eu quero que meus descendentes sobrevivam e carreguem consigo a minha lembrança, porque de algum modo vou deixar minha herança genética espalhada por aí e isso é um privilégio enorme no mundo em que vivemos...
E ela é tão linda e fofa e hoje é o meu dia, eu deveria falar de mim, eu sei, mas eu só sou mãe por conta dela então o dia não é só meu, é dela também...
Espero que um dia ela me perdoe pelos meus erros e também espero morrer velhinha pra ver meus netos e bisnetos e pra contar pra ela as histórias de quando ela era criança... e de como ser mãe foi bom para mim!

sábado, maio 10, 2008

Ils voulont de moi...

Uma mochila, usada, surrada, sujinha: querida...
Um celular, velho, com um número quase que desconhecido, exceto pelos meus amigos mais íntimos (uns 3 ou 4) e minha família: útil...
Um mp3, dos mais baratos que tem, cheio de músicas deprês, e o pior, músicas que ils vont pas ecoutez...
Uns cartões sem crédito... de metrô, de telefone, do banco...
E o que mais vou sentir falta, o que me tiraram de mais valor foi um pouco da fé que eu tenho no ser humano, o resto eu compro de novo, ou ganho, ou passo sem mesmo, mas a fé de que as pessoas são melhores do que são de fato, a fé de que não se precisa fazer isso pra sobreviver (afinal eu mesma tenho sobrevivido com tão pouco e tenho sido feliz, na medida do possível), a fé de que tempos melhores virão, de que vamos deixar de ser egoístas pra ser mais humanos...
Ils voulont de moi plus que les choses materiels...

Poeminha sentimental

O meu amor, o meu amor, Maria
É como um fio telegráfico da estrada
Aonde vêm pousar as andorinhas...
De vez em quando chega uma
E canta
(Não sei se as andorinhas cantam, mas vá lá!)
Canta e vai-se embora
Outra, nem isso,
Mal chega, vai-se embora.
A última que passou
Limitou-se a fazer cocô
No meu pobre fio de vida!
No entanto, Maria, o meu amor é sempre o mesmo:
As andorinhas é que mudam.

(Preparativos de Viagem - Mário Quintana)

sexta-feira, maio 09, 2008

Hábitos

Lembro-me que quando era criança gostava muito de estudar, e eu estudava de manhã, então acordava cedo, bem cedo, pra me arrumar e ir pra escola, porque eu não gostava de chegar atrasada e faltar à aula então, nem pensar...
Depois que cresci, virei professora e tinha de acordar cedo para ir pra escola, porque eu lecionava de manhã, bem cedo, e tinha de me arrumar pra ir pra escola, porque eu não gostava de chegar atrasada e faltar à aula então, só em caso de doença...
Hoje não estudo mais, nem sou professora, mas continuo acordando de manhã, bem cedo, não sei ao certo porquê...
Lembro-me também que gostava muito de leite com nescau (nescau mesmo, naõ servia outro), e o nescau sempre acumulava no fundo do copo então eu movia o copo com leves movimentos circulares pra ele misturar de novo, um dia reparei que sempre fazia isso tomando cerveja ou refrigerante e não sei ao certo porquê...
E eu gostava de brincar de super herói, eu era a mulher maravilha, e se a pessoa não quisesse brincar do meu jeito eu tomava a bola ou o que fosse, era meu e pronto, ninguém mais brincava... continuo tomando a bola, ou saindo da brincadeira e eu nem sei ao certo porquê...

segunda-feira, maio 05, 2008



São Paulo, segunda-feira, 05 de maio de 2008

Acabaram as utopias?

GILBERTO DUPAS


Assim como a esperança, a utopia não morrerá nunca. Mas seu destino parece sempre fazer morada em outro lugar


O MUNDO parece abandonar definitivamente as utopias e atirar-se de joelhos diante do mercado. A China virou uma das sócias maiores do capitalismo global; a Itália entrega-se mais uma vez ao megaempresário Berlusconi; e Cuba abre brechas à propriedade privada e à sociedade de consumo. O capitalismo transformou-se em regime único.
O mercado implacável define ganhadores e perdedores, o Estado de bem-estar social definha e parecemos nos satisfazer com iPods, telefones celulares, telas de plasma e carros de US$ 3.000.
Isso significa que qualquer proposta de transformação do mundo capitalista passou a ser uma ilusão irrealizável? Não é mais possível projetar para o futuro fundamentos de uma nova ordem? Os versos de Eduardo Galeano esclarecem: "Para que serve a Utopia?/ Ela está diante do horizonte./ Me aproximo dois passos/ e ela se afasta dois passos./ Caminho dez passos/ e o horizonte corre/ dez passos mais à frente./ Por muito que eu caminhe/ nunca a alcançarei. Para que serve a Utopia?/ Serve para isso: para caminhar".


GILBERTO DUPAS , 65, é coordenador geral do Grupo de Conjuntura Internacional da USP, presidente do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais (IEEI) e autor, entre outros livros, de "O Mito do Progresso".


Não é ótimo quando alguém escreve exatamente o que você pensa?? Uma economia danada de neurônios...
Quem quiser ler o texto todo compre a Folha de São Paulo de hoje ou então acesse na internet (pra isso tem de ser pagante da uol ou da própria folha).

quinta-feira, maio 01, 2008

Poema Velado


O beijo não concretizado,
aquele pôr-de-sol que não vimos juntos,
a cerveja que não bebemos,
as besteiras que não dissemos,
as coisas bobas que não fizemos...
A briga que adiamos por falta de tempo,
os desentendimentos que não plantamos,
os filhos que não tivemos,
Esses tempos verbais imperfeitos, passados...
Esse tempo nos passando pra trás e adiando tanta coisa bonita...
Às vezes é só disso que sinto falta: de um presente imperfeito.

São Paulo, quinta-feira, 01 de maio de 2008 : "Professor que disse que QI de baiano é baixo é alvo de críticas

Para o governador da Bahia, declarações do professor Antônio Dantas são "surto de imbecilidade'; para Tom Zé, são uma "piada"

Coordenador do curso de medicina da UFBA atribuiu mau resultado da universidade no Enade ao nível intelectual dos alunos"


É óbvio que isso deve ser alvo de críticas, é óbvio que isso só pode passar de uma piada, não é o povo baiano que tem o QI baixo, são os governantes que têm o QI alto suficientemente para permitir que as escolas aprovem alunos com baixo rendimento escolar (como no caso da progressão continuada), que os professores recebam prêmios quanto maior o número de alunos aprovados em suas disciplinas (pois os que atribuem notas vermelhas são incompetentes), que a educação seja para todos, inclusive para aqueles que não querem.

O problema da educação no Brasil não é tratado como deveria, nem pelas autoridades competentes (ou no caso, incompetentes) nem pelos demais envolvidos na história (professores, alunos, pais). Há muito o quantitativo tomou o lugar do qualitativo, isso não é novidade para ninguém.

Sabe-se que há diferenças entre os vários estados brasileiros, diferenças culturais, diferenças de aprendizado, e as universidades, queiram ou não, se adaptam a essas diferenças, e isso não acontece só dentro do Brasil. Quanto maior a expectativa dos universitários maior seu esforço pessoal.

Meus ex-alunos do Ensino Médio eram desmotivados, se eu trabalhava Lógica Clássica por exemplo, não podia argumentar que eles usariam no vestibular ou em algum concurso público, tinha de argumentar que usariam para aumentar a mesada com os pais, pois a maioria (em alguns casos absoluta) não pensava em prestar vestibular e não se achava apta a tentar um concurso público, se sentiam felizes se conseguissem um trabalho de empacotador no supermercado da esquina... será que isso tem a ver com o QI baixo dos alunos, ou com o excesso de QI dos governantes?