quinta-feira, janeiro 29, 2009

Espanto entre gerações

Aconteceu que eu comprei umas mangas Bourbons, estavam pequenas, bonitas, como as que eu comia no quintal da minha avó quando dependurados nos galhos as colhíamos... então entre o café da manhã e o almoço eu decidi comer uma dessas gostosuras e a Mari como que por magia (isso acontece sempre que entro na cozinha) apareceu pra me acompanhar, dei a ela uma manga com casca e tudo e enquanto eu comia a minha, ela olhava a dela, até que me perguntou: "mãe, como eu vou tirar a casca?"... Foi então que me dei conta de que não estávamos trepadas numa árvore comendo aquelas mangas, estávamos na cozinha de casa e a Mari nunca na vida que subiu numa mangueira nem em qualquer outra árvore e me lembrei de que ela jamais tinha comido uma manga assim, sempre descascava e colocava no prato para ela, afinal as mangas de hoje são enormes...
Então eu ensinei a ela como chupar uma manga...
E de feliz comecei a cantarolar uma canção do RaTimBum, foi então que se deu o segundo estranhamento: "mãe, você assistia O Castelo Ratimbum quando era criança?" "não filha" respondi, "por que?" tornou ela a questionar, "porque eu não tinha TV em casa" tornei a responder, "não tinha tv? e o que você fazia???" perguntou-me deveras espantada, não pude conter minha risada (imagina, como se não houvesse nada pra se fazer além de ver tv) "eu brincava ué, brincava na rua, inventava brincadeiras, cantava, corria, era isso que eu fazia". Ah... então se seguiu uma fila enorme de perguntas e eu, pacientemente fui respondendo uma a uma até perder a paciência.
Aliás prometi a ela ensinar uma brincadeira que fazíamos quando eu lavava a cozinha, então tenho de ir lá lavar o quintal com bastante sabão em pó e ensinar a ela como se escorrega no chão... espero que ela goste!! (eu amava!)...

quarta-feira, janeiro 14, 2009

A vitória da ignorância?

Sobre a reforma da língua portuguesa tenho uma opinião muito particular e nem um pouco desvinculada de minha experiência com a educação.
Óbvio que há mais perguntas e dúvidas do que de fato respostas e certezas e ninguém há de duvidar que as línguas são vivas e mudam com o tempo e que as mudanças são necessárias, porém há também aquele apego ao velho e bom português! E pensar que cada vez mais ele se distancia dos livros que já li (aqueles em que o português era arcaico suficientemente para me fazer sentir jovem) dá uma certa tristeza... no entanto mudar é bom! Só me pergunto se essa mudança não é decorrente da ignorância do povo que não consegue aprender a língua e insiste em deformá-la, só me pergunto se a simplificação é uma coisa boa a ponto de excluir acentos, hifens e coisas que são usadas para diferenciar palavras, enriquecer a língua escrita...
Lembro-me de que eu nunca consegui aprender inglês, sempre tive aquele ranço e aquela má vontade típica dos que, como bons esquerdistas, não queriam seguir o império, uma de minhas justificativas era "imagina se vou querer aprender uma língua em que ser e estar é a mesma coisa", agora me pergunto se quero falar uma língua em que côco e cocô são a mesma coisa... (não levem tão a sério assim o que estou dizendo, afinal é só um blog lido pelos meus amigos).
Ah mas que saudades eu vou ter do guarda-roupas e da lingüiça e de todas as coisas que vão ser tiradas dessa nossa língua, as coisas que a bem dizer já estão em desuso há tempos...
E a pensar assim percebo como gosto das coisas em desuso, os guarda-chuvas grandes, as meias para dormir, os homens que abrem a porta do carro, o respeito que se tinha pelos pais, professores... (principalmente o respeito que se tinha pelos professores).

Enfim só espero não viver o suficiente para ver o tradicional você (que já está em desuso) pelo atual vc, ah por favor deusinho não permita que eu viva suficientemente para presenciar a vitória completa da ignorância sobre a língua portuguesa!

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