terça-feira, maio 17, 2022

Amor de mãe

    Ser mãe não fazia parte dos meus planos originais, eu queria mais, queria seguir uma carreira acadêmica, fazer mestrado, doutorado, ter uma vida independente, não depender de ninguém e isso envolvia ninguém depender de mim. Hoje eu sei como era tola nessa época porque eu queria muito menos do que tenho hoje.
    Aconteceu que um dia eu comecei a acordar feliz, não é que antes eu não gostasse de acordar eu até gostava mas havia uma certa falta de sentido o que me deixava triste e quando comecei a acordar feliz eu não entendi nada.
    Quando reportei ao médico o fato de ter algo errado comigo, ele me disse que acordar feliz, na verdade, era mais certo que errado e me pediu vários exames inclusive de gravidez, eu devia ter ficado chocada ou desesperada ou sei lá o que, mas eu achei aquilo tão mágico, pensar que tinha um ser se desenvolvendo em mim e que desde agora eu me sentia feliz, era como o prelúdio de um mundo novo, desconhecido, um mundo que fazia mais sentido do que tudo que eu havia vivido até então, mais sentido que as aulas do professor Castilho e que as teorias de Freud e tudo que eu conhecia e amava até então.
    E assim foi, em uma semana após a concepção que se deu no dia de São Jorge, arquétipo de proteção e força, eu já sabia que toda minha vida seria diferente.
    Mariana nasceu em dia de Reis outro arquétipo muito significativo, foi um presente ao divino que me habita.
    Não foi fácil ser mãe, eu me sentia despreparada, nunca sabia se estava fazendo a coisa certa, às vezes me cansava de cuidar e isso me fazia sentir culpada e então eu comprava coisas pra me sentir uma mãe melhor e eu trabalhava mais e mais pra comprar mais coisas e me sentir uma mãe melhor. 
    Depois vieram momentos difíceis, separação complicada, depressão... e ela era tão pequena, tão frágil e eu não soube muito bem como lidar com tudo, eu me sentia mais pequena e frágil que ela e de repente ela se tornou maior e mais forte que eu porque foi por ver esse ser tão pequeno e frágil sendo forte e grande que eu me reergui, que eu continuei, que eu me lancei à vida.
    Os anos passaram lépidos, a infância passou e eu ria quando me diziam pra aproveitar, eu achava que ia demorar muito pra acontecer.
    Dois dias que me fizeram cair na real foram o aniversário de 12 anos, sim os doze anos foram marcantes pra mim porque ela sempre me pedia maquiagem, afinal as crianças da escola usavam e eu não concordava com aquilo imagina usar maquiagem aos 7 anos... então dizia que quando ela fizesse doze anos eu deixaria ela usar e de repente chegou os doze e eu ainda achava um absurdo porque ela ainda era criança e eu me arrependi de não ter dito 20 (talvez eu soubesse que vinte era demais mas 12 me parecia de menos agora que ela tinha doze) enfim eu tinha dito isso por 6 longos anos para ela e 6 ligeiros anos para mim, comprei uma maleta de maquiagem pra ela e talvez tenha sido o melhor aniversário dela.
    O segundo dia foi esse de há alguns dias que eu soube sempre que chegaria, eu desejava que chegasse, foi bom que chegou, estou aprendendo muitas coisas com ele ainda, o dia de ir morar fora e fazer faculdade.
    Sim eu vivi isso e foi bom pra mim, espero que seja bom pra ela também, são desafios diferentes que se vive, uma época de fazer amigos, de pensar no futuro e se planejar pra ele. Tenho medo das coisas ruins que possam acontecer com ela afinal eu não estou ali pra proteger, pra saber o que está acontecendo, pra tomar conta.
    Eu sei que ela está bem, eu sei que ensinei boas coisas, eu sei que a vida é dela e os desafios são dela e as decisões também são dela, eu sei de tudo isso e tento pensar que fazer escolhas erradas fazem parte de viver e aprender, embora eu torça pra ela realizar as melhores escolhas e confiar nas pessoas certas e me procurar quando não souber o que fazer ou procurar alguém que ela confie de verdade.
    Crescer dói e não dói só na gente, dói também nos que amamos, porque eles tem de nos deixar crescer e isso, de certo modo, também é uma dor.
    Amor de mãe é assim: confuso, estranho, intenso, doído, no entanto é o amor melhor e maior, infinito e eterno, aquele que a gente pode contar em qualquer tempo e espaço, aquele que a gente leva com a gente pra sempre.

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