quarta-feira, outubro 24, 2012

carta 3

Os sentimentos mudam, nós mudamos, fico feliz com isso porque amar sem ser amado é muito triste. Gostar sem ser gostado é desesperador. Com o tempo o coração se ajeita, se aquieta, outras coisas nos tomam a atenção que anteriormente é voltada para o ser amado, a vida segue seu rumo, seu curso natural, fazemos novos amigos, empreendemos novos sonhos. Claro que nos lembramos com carinho sempre das pessoas, mas por exemplo, não consigo me imaginar beijando ou tendo qualquer contato físico com o pai da Mari, seria como ter contato com um estranho, aliás um estranho mais estranho que os estranhos normais porque os estranhos normais poderiam me atrair de algum modo ele não, ele eu sei exatamente o que esperar, embora eu não saiba o que esperar, embora eu saiba que não se deve esperar nada dele como de fato não espero e talvez por isso seja tão inimaginável pensar em ter contato com ele. Me fiz compreender? não importa, é assim que sinto. Já do meu último ex sinto saudades, mas sei que ele não era pra mim então não adianta sentir saudades, não adianta pensar nele, não éramos um pro outro, embora eu consiga me imaginar bem tendo contato físico com ele, e que contato físico, rs. Mas nem só de contato físico vive a mulher, vive também de afagos, de cortesias, de gentilezas... E vive de sonhar que um dia vai gostar de verdade de alguém e ser gostada: ao mesmo tempo!!

quarta-feira, outubro 17, 2012

carta 2

Quando eu disse na minha última carta que me bastava a mim mesma, eu sei que logo pensaste: sempre soube disso. Na carta foi apenas licença poética, acho bonito dizer isso: basto-me a mim mesma! É um modo de me auto-afirmar (não sei se ainda tem hífen essa palavra, da minha época para hoje talvez não saiba mais escrever em português, perdoa-me se erro) e eu passei a vida precisando me afirmar como ser humano, nasci diferente dos meus, quando se é diferente é preciso afirmar-se, é preciso bastar-se a si ou encontrar outros iguais, nasci ímpar, sem igual ou compatível. Mas de verdade, se fosse pra dizer ao teu ouvido eu daria um basta á minha suposta independência, seria criança de novo, deixava-te cuidar de mim, segurar minha mão ao atravessar a rua, te pedia conselhos quando fosse fazer algo, e essa será sempre a maior prova de amor que se pode dar a alguém: confiança (a coragem de acreditar no outro). Confiar em alguém é como entregar uma parte de si a esta pessoa. Porque a confiança aceita sem provas uma verdade. E, de verdade, eu sou uma fraude. Não confiei em ti, nem no seu suposto amor, que para mim nunca declarado foi apenas um gostar vão, uma distração como via o tempo todo os homens por aí a se distrair. Eu sei que tenho errado nisso. No entanto quando se confia em alguém perde-se um pedaço de si, perdi um pouco a coragem de acreditar no outro, mesmo sabendo que alguns outros merecem que se tenha essa coragem. Devia ter sido corajosa contigo e não fui.Também foste covarde. Eu tive minhas desculpas, tiveste as tuas. Tenho tentado fazer diferente. Não quero que o passado seja desculpa para a infelicidade, motivo talvez, mas desculpa não, peço a Deus libertar-me dessa covardia de sentir-me malquerida, malgrado sabendo que o sou. Aguardo-te notícias, Da tua,

terça-feira, outubro 16, 2012

carta 1

Sinto meu caro por tudo que houve entre nós de ruim, quisera poder volver o tempo e sentir o que sinto hoje e pensar como penso agora, no entanto, somente os momentos que nos separaram me fizeram ser isso que sou e pensar como ando pensando. No tempo em que te amei, sem me dar conta disso, era como se a vida não fosse necessária e estar presente fosse apenas uma consequência de se estar vivo. Hoje percebo como estar presente era a causa de se estar vivo. Eu nunca soube o que era amar. Soube sempre que amar não existe, que amar não durava e que amar não era pra mim. Sabíamos que não era amor e também sabíamos, eu e tu, que não era pra sempre, esperávamos o tempo todo a hora de terminar só que não terminava nunca, teimávamos em ficar juntos e isso nos parecia o suficiente. E o que é o suficiente afinal? O suficiente talvez seja o necessário à felicidade. Necessitava de ti para que fosse feliz e, a meu modo, eu fui feliz. Embora fosse uma felicidade velada, medrosa de ser felicidade, porque comigo era comum não ser feliz. Da primeira vez que amei foi em demasia, tanto e de tal modo demasiado que me perdi nos descaminhos do amor. Daí enlouqueci, tranquei as portas e as janelas pensando que era forte o suficiente. Eu resisti como se fosse um herói de guerra, ganhei todas as medalhas de honra, mantive intacto de todos os ataques meu coração. Hoje penso que ganhar uma guerra não é coisa que se deva fazer. Eu nunca soube amar, embora tenha sempre amado! Tantas vezes diante do mar amei o vento que me soprava os cabelos e amei a esmo os transeuntes que passavam, e amei as ondas, e a paisagem, e amei minha insignificância estando ali sozinha a olhar aquilo tudo. Tantas vezes desejei estar ali junto a alguém olhando aquilo tudo. Mas o fato, o que me dói na verdade, é saber que não se pode estar ali com alguém, que esse lugar é só meu. Sim eu te amei, mas eu sou sozinha, embora eu tenha sempre tido medo e negado, embora eu não quisesse ser assim, eu sou só eu e a minha solidão, não sei ser de outro jeito, eu me basto e isso é tudo!

cartas de amor

Hoje me pus a ler as cartas de amor trocadas entre Ofélia e Fernando Pessoa. Bateu-me, confesso, um pouco de decepção. Fernando era um poeta tão maravilhoso imaginava suas cartas de amor mais belas, profundas, dizendo coisas que se pudesse apaixonar o tempo todo. Talvez porque para mim não tivessem significado que eu as não achei belas, os e-mails que troquei com alguns namorados foram mais bonitos que aquilo. Há tempos não recebo uma carta de amor, sinto falta de corresponder-me com alguém, tirar tempo e tinta para escrever palavras numa folha, meio nostálgico, eu sei, mas tão precioso! Não trocaria uma só carta de amor por qualquer diamante do mundo, não trocaria uma palavra de amor por qualquer dinheiro que houvesse.