carta 2
Quando eu disse na minha última carta que me bastava a mim mesma, eu sei que logo pensaste: sempre soube disso.
Na carta foi apenas licença poética, acho bonito dizer isso: basto-me a mim mesma! É um modo de me auto-afirmar (não sei se ainda tem hífen essa palavra, da minha época para hoje talvez não saiba mais escrever em português, perdoa-me se erro) e eu passei a vida precisando me afirmar como ser humano, nasci diferente dos meus, quando se é diferente é preciso afirmar-se, é preciso bastar-se a si ou encontrar outros iguais, nasci ímpar, sem igual ou compatível.
Mas de verdade, se fosse pra dizer ao teu ouvido eu daria um basta á minha suposta independência, seria criança de novo, deixava-te cuidar de mim, segurar minha mão ao atravessar a rua, te pedia conselhos quando fosse fazer algo, e essa será sempre a maior prova de amor que se pode dar a alguém: confiança (a coragem de acreditar no outro). Confiar em alguém é como entregar uma parte de si a esta pessoa. Porque a confiança aceita sem provas uma verdade. E, de verdade, eu sou uma fraude.
Não confiei em ti, nem no seu suposto amor, que para mim nunca declarado foi apenas um gostar vão, uma distração como via o tempo todo os homens por aí a se distrair.
Eu sei que tenho errado nisso. No entanto quando se confia em alguém perde-se um pedaço de si, perdi um pouco a coragem de acreditar no outro, mesmo sabendo que alguns outros merecem que se tenha essa coragem.
Devia ter sido corajosa contigo e não fui.Também foste covarde.
Eu tive minhas desculpas, tiveste as tuas.
Tenho tentado fazer diferente.
Não quero que o passado seja desculpa para a infelicidade, motivo talvez, mas desculpa não, peço a Deus libertar-me dessa covardia de sentir-me malquerida, malgrado sabendo que o sou.
Aguardo-te notícias,
Da tua,
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