carta 1
Sinto meu caro por tudo que houve entre nós de ruim, quisera poder volver o tempo e sentir o que sinto hoje e pensar como penso agora, no entanto, somente os momentos que nos separaram me fizeram ser isso que sou e pensar como ando pensando.
No tempo em que te amei, sem me dar conta disso, era como se a vida não fosse necessária e estar presente fosse apenas uma consequência de se estar vivo. Hoje percebo como estar presente era a causa de se estar vivo.
Eu nunca soube o que era amar. Soube sempre que amar não existe, que amar não durava e que amar não era pra mim.
Sabíamos que não era amor e também sabíamos, eu e tu, que não era pra sempre, esperávamos o tempo todo a hora de terminar só que não terminava nunca, teimávamos em ficar juntos e isso nos parecia o suficiente.
E o que é o suficiente afinal?
O suficiente talvez seja o necessário à felicidade.
Necessitava de ti para que fosse feliz e, a meu modo, eu fui feliz. Embora fosse uma felicidade velada, medrosa de ser felicidade, porque comigo era comum não ser feliz.
Da primeira vez que amei foi em demasia, tanto e de tal modo demasiado que me perdi nos descaminhos do amor. Daí enlouqueci, tranquei as portas e as janelas pensando que era forte o suficiente.
Eu resisti como se fosse um herói de guerra, ganhei todas as medalhas de honra, mantive intacto de todos os ataques meu coração.
Hoje penso que ganhar uma guerra não é coisa que se deva fazer.
Eu nunca soube amar, embora tenha sempre amado!
Tantas vezes diante do mar amei o vento que me soprava os cabelos e amei a esmo os transeuntes que passavam, e amei as ondas, e a paisagem, e amei minha insignificância estando ali sozinha a olhar aquilo tudo. Tantas vezes desejei estar ali junto a alguém olhando aquilo tudo.
Mas o fato, o que me dói na verdade, é saber que não se pode estar ali com alguém, que esse lugar é só meu.
Sim eu te amei, mas eu sou sozinha, embora eu tenha sempre tido medo e negado, embora eu não quisesse ser assim, eu sou só eu e a minha solidão, não sei ser de outro jeito, eu me basto e isso é tudo!
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