cotidiano e afins
terça-feira, junho 26, 2012
domingo, junho 10, 2012
A DELICADEZA DO AMOR
Sim, eu gostei! A delicadeza do filme não é para qualquer espectador, há de se ter uma delicadeza no olhar, no sentir, no pensar e também aquela predisposição a pensar sobre coisas importantes. Pressupõe-se que quem vá ver um filme desses é porque quis ver algo diferente da agitação dos filme americanos ou mesmo em muitos casos da superficialidade com que certos temas são tratados, não que isso seja de todo ruim, há dias em que o que precisamos são apenas rostos bonitos e diálogos vazios. Foi o segundo filme sobre amor que vi em anos, o último que me lembro foi "Brilho eterno de uma mente sem lembranças". Agora Delicadeza do Amor veio novamente ao encontro do que tenho vivido. Após um longo período de luto sem motivo aparente, sem razão acessível ao consciente, Nathalie tem uma atitude inesperada. E o filme mostra como o inesperado age de modo positivo em nossas vidas, como o amor não é uma busca mas um encontro, um acaso, uma enorme coincidência, um "estar ali no lugar certo exatamente naquela hora em que era pra acontecer"... E acontece que apesar da nossa luta, em direção ao amor ou na fuga desesperada dele, ele acontece, não pede permissão, nem passagem, pede apenas pureza de alma, um pouco de aceitação, encontros fortuitos, desinteressados, divertidos, o amor só nos pede verdade e o filme nos mostra como os homens se enganam a respeito do que consideram importante na magia da conquista. Conquistar é ser verdadeiro, é ser você mesmo, é se permitir ser ridículo, desajeitado às vezes, é deixar que algumas coisas dêem errado... conquistar alguém é mais do que satisfazê-lo na cama, mais do que levá-lo para a cama, é criar vínculos que façam esse momento ser natural, inevitável! Sim, há uma delicadeza enorme em tudo isso! http://www.cineclick.com.br/filmes/ficha/nomefilme/a-delicadeza-do-amor/id/18008Folha de S.Paulo - Ciência + Saúde - Breve meditação sobre o Nada - 10/06/2012
Folha de S.Paulo - Ciência + Saúde - Breve meditação sobre o Nada - 10/06/2012
Na física moderna, o espaço vazio, o 'Nada', pode abrigar flutuações capazes de dar origem a todo um universo
Recentemente, envolvi-me num debate com o físico Lawrence Krauss, que publicou um livro no qual afirma que a física hoje explica como o Universo surgiu do nada. Ou seja, a velha questão da Criação sob roupagem científica, e mais um exemplo de arrogância intelectual.
É bom começar com Aristóteles, que decidiu que a "natureza detesta o vácuo", declarando que o "nada" não existe, ao menos como vazio absoluto. Para ele, o espaço era pleno de éter, a substância dos planetas e demais objetos celestes.
No século 17, Descartes também propôs que a natureza era plena. Os planetas eram carregados em torno do Sol por redemoinhos celestes, criados pela circulação duma substância que enchia o espaço.
Newton mostrou que Descartes estava errado, argumentando que a fricção causaria a queda da Lua sobre a Terra. Para ele, a gravidade podia ser explicada por uma força à distância, agindo no vazio.
Esse pingue-pongue continuou até o século 19, quando James Maxwell mostrou que a luz é uma onda eletromagnética. Como toda onda, precisava dum meio para se propagar. Maxwell e outros sugeriram o éter, diferente do dos gregos, mas que preenchia o espaço sem provocar fricção nas órbitas celestes.
Em 1905, Einstein mostrou que o éter era desnecessário: as ondas de luz podem se propagar no espaço vazio. Mais uma vez, o éter some.
Em torno da mesma época veio a mecânica quântica, para explicar a física dos átomos. Foi então que tudo mudou: as regras no mundo dos átomos são diferentes das do nosso mundo. Mais precisamente, seus efeitos existem no nosso mundo, mas são imperceptíveis.
No mundo atômico, nada para. A matéria vibra incessantemente, feito gelatina sacudida. Se você tenta localizar um elétron num ponto do espaço, ele escapa feito uma gota de mercúrio. Esse é o princípio da incerteza de Heisenberg, que impõe um limite absoluto na informação que podemos obter do mundo.
Como movimento tem energia, o princípio também diz que a energia nunca é zero. Na física moderna, representamos uma partícula como excitação de um campo. O espaço é permeado por campos que, de vez em quando, criam partículas.
Os campos vibram incessantemente e, com isso, podem criar partículas com energias variadas: quanto maior a energia, menos tempo essas partículas duram, retornando ao "nada" de onde vieram, o campo vazio (ou vácuo). Se incluirmos a gravidade nesse esquema, e entendendo que é interpretada como a curvatura do espaço causada pela matéria, flutuações quânticas no campo gravitacional levam à flutuações na curvatura do espaço.
Temos, então, o espaço vazio, o "Nada", onde uma flutuação pode levar a uma bolha de espaço, um cosmoide que pode crescer e se transformar num universo inteiro.
É assim que a cosmologia descreve a criação do Universo a partir do nada. Esse tipo de explicação pressupõe toda uma estrutura conceitual, e não faz sentido sem ela. Já não basta celebrar a inventividade humana, capaz de criar teorias desse tipo, sem ter de elevá-la a um nível divino? Parece-me óbvio que a mente humana não pode criar num vácuo: o "nada" absoluto é importante como instrumento metafísico, mas sem importância no mundo real.
MARCELO GLEISER é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor de "Criação Imperfeita". Facebook: goo.gl/93dHI