domingo, março 13, 2005

Eu também queria ser mulher...

Eu já tinha ouvido falar no Mário de Sá Carneiro, a Adriana Calcanhoto até gravou uma música usando um poema dele... hoje visitando o sítio do programa "provocações" da TV Cultura encontrei um poema dele falando da mulher, e o poema cai bem naquilo que disse ontem, devia mesmo ser mais fácil ser mulher antigamente, a julgar pelo que ele diz no poema devia ser facílimo!
Olha que lendo o poema até me deu vontade de ser "mulher", porque se ser mulher é isso então... acho que não devia ter feito filosofia!



Eu queria ser mulher
Mário de Sá-Carneiro


Eu queria ser mulher para poder me estender ao lado dos meus amigos, nos cafés.

Eu queria ser mulher para poder passar pó de arroz pelo meu rosto diante de todos,nos cafés.

Eu queria ser mulher para não ter que pensar na vida...
Conhecer muitos velhos, a quem eu pedisse dinheiro.

Eu queria ser mulher para passar o dia inteiro falando de modas, fazendo fofocas, muito entretida.

Eu queria ser mulher para mexer nos meus seios, aguçá-los ao espelho antes de me deitar.

Eu queria ser mulher para que me fosse bem todos esses ílios. Esses ílios que no homem, francamente não se pode desculpar.

Eu queria ser mulher para ter muitos amantes, e enganá-los, a todos, mesmo ao predileto.

Como eu gostaria de enganar o meu amante loiro, o mais esbelto, o mais bonito. Enganá-lo com um rapaz gordo, feio e de modos extravagantes.

Eu queria ser mulher para excitar quem me olha.

Eu queria ser mulher para poder me recusar.

Sobre o(a) autor(a):
Mário de Sá-Carneiro nasceu em Lisboa (1890-1916). Sua obra revela toda sua inadaptação ao mundo e a constante busca do seu próprio eu. Percebe-se bem suas idéias de morte e suicídio, seu pessimismo e desespero. Manteve correspondê

sábado, março 12, 2005

Mulher, mulher, mulher....

Houve um tempo em que ser mulher era mais fácil, não precisávamos sair a caça de um marido, nossos próprios pais arranjavam isso pra gente (não estou falando que era bom, menos trabalhoso só)... não precisávamos trabalhar em jornada dupla, porque, não se iludam, mulher que trabalha fora durante a semana, trabalha dentro fim de semana, o lar ainda é responsabilidade da mulher, por mais que seu marido seja compreensivo ele não dividirá as atividades domésticas com você igualitariamente, as contas serão divididas igualmente, mas o trabalho de casa não, a maior parte pertence a você... E os filhos então? você já ouviu filho dizer "papai me quero isso, papai pegue aquilo pra mim etc?", estando a mãe em casa a palavra pai raramente é pronunciada... não sei porque as crianças gostam de falar mamãe, pra dormir a mãe tem de ir junto, pra comer a mãe tem de ajudar, pra fazer xixi no vaso, só se a mãe for junto... (será que quando crescem muda?) deixa eu pensar um pouco... quando eu me vejo em apuros o que eu penso logo: manhêêêê!!!!!!!!!!!!!!!! (acho que não muda!)
E o pior é que o homem trabalha fora e fim de semana vai jogar futebol ou ler jornal ou ver o jogo na tv e tem direito a isso e se a gente pede pra eles fazerem alguma coisa é um abuso afinal de contas é o dia de folga deles, mas... e o nosso???????????
Somos mães, operárias, faxineiras, lavadeiras, passadeiras, cozinheiras e ainda temos de ser lindas, sexys, quentes! Não é muita coisa pra uma mulher só?
Sim, por isso existem as amantes, que são só lindas, sexys e quentes! não precisam ser mais que isso!
Por tudo isso eu, mulher, mãe, operária, faxineira, cozinheira, passadeira, lavadeira e mulher sexy e quente nas horas vagas, decidi que domingo é meu dia de folga! folga mesmo! não faço nada dia de domingo, nada de nada! Fico de perna pro ar, pode a casa estar suja, pode o povo estar com fome, pode a mari nem tomar banho, eu não faço nada! Afinal de contas, sou mulher e mulher também merece ter um dia de folga!

Hoje li uma entrevista super gostosa, do Marcelo Rubens Paiva, na Revista Trip... sabe quando se lê algo e fica aquela sensação boa, não sei explicar muito bem isso, foi como ir numa palestra do Ziraldo, ou ler um poema do Neruda, ou ainda o livro do Desassossego do Pessoa, deu uma sensação gostosa. Já li coisas do Marcelo (quem não leu “Feliz Ano Velho”?), já ouvi falar dele, uma amiga de Sampa foi numa palestra dele e achou bem interessante, embora não tenha achado que foi o máximo como a amiga da minha amiga achou (entenderam? Se entenderam me expliquem que nem eu entendi bem). Mas voltando ao assunto, achei gostoso ler a entrevista porque ele falou como gente. O que é falar como gente? É quando não estamos nos importando em assumir nossos erros, em nos expor, quando não queremos fazer auto-propaganda, só falamos, por falar aquilo que nos perguntam, simplesmente conversamos, como faríamos com um amigo, contamos podres, falamos besteira, nossos sonhos, essas coisas bobas da vida, que são, no geral, a vida!
Isso faz com que tenhamos vontade de sair por aí pra falar da vida com os amigos, isso dá vontade de Ter amigos e de conversar com eles, dá vontade de se expor, falar besteira...
Tem profissões que não podemos nos dar ao direito de falar besteira, eu por exemplo, enquanto professora, não dá pra falar besteira (embora meus alunos acreditem veementemente que tudo que eu digo não passa de besteira), não dá pra falar da vida (é chato professor que usa a sala de aula pra auto-análise, isso é coisa de sala de psicoterapia, não de sala de aula!), não dá pra se expor (embora eu não saiba falar daquilo que não sou e que não sei).
Percebem como é contraditório isso tudo?
Percebem como essa entrevista me fez pensar?
Acho que é isso que é gostoso, é Ter algo em que pensar...

sábado, março 05, 2005

Professor pra que?

Ando trabalhando muito, aula atrás de aula, mal posso esperar pra chegar sexta a tarde, pra descansar um pouco, afinal de contas conviver com tantos alunos, os mais diferentes possíveis, acaba cansando...
No primeiro dia de aula pedi aos alunos que cada um me desse um motivo por que continuou estudando... a maioria não soube o que responder, nunca tinha pensado nisso, era como se estudar fosse algo como tomar banho ou escovar os dentes, como se fizesse parte da vida e não fosse necessário parar pra pensar sobre isso, afinal de contas "é preciso estudar pra ser alguém na vida" (respondeu boa parte).
Queria saber quem foi que inventou isso?
Quem disse a eles que não são ninguém e que precisam se tornar alguém e que é a escola que faz isso...
Primeiro que a partir do momento que nos entendemos por gente (antes disso até, diria que quando somos concebidos) já somos alguém (nem que seja no imaginário de outro alguém), segundo que a função da escola deveria ser a de instruir auxiliando a melhora da educação que vem de casa, mas seu papel real é educar, desde a instrução até ao traquejo moral e social, pois os pais se eximiram dessa responsabilidade.
Segundo que o mundo e, principalmente, nosso país está cheio de universitários e graduados em faculdades desempregados, gente competente, pensante e desvalorizada pelo mercado (vide Reinaldo!)
Então estudar pra que?
O conhecimento há muito deixou de ser um fim em si mesmo, hoje o tratam como meio pra atingir objetivos, no geral materiais, dinheiro!
Para os alunos estudar, isto é, frequentar a escola, é uma maneira agradável de passar o tempo, longe da família, porque os pais geralmente "enchem o saco", junto com os amigos que tem objetivos iguais (zonear).
Para o governo é um modo de estar de bem com sua consciência, afinal de contas o Brasil sobe a cada ano no conceito internacional como país que está erradicando o analfabetismo, embora a maioria dos alunos não saiba ler, no sentido lato do termo.
De resto me pergunto e professor? serve pra que?