Hoje li uma entrevista super gostosa, do Marcelo Rubens Paiva, na Revista Trip... sabe quando se lê algo e fica aquela sensação boa, não sei explicar muito bem isso, foi como ir numa palestra do Ziraldo, ou ler um poema do Neruda, ou ainda o livro do Desassossego do Pessoa, deu uma sensação gostosa. Já li coisas do Marcelo (quem não leu “Feliz Ano Velho”?), já ouvi falar dele, uma amiga de Sampa foi numa palestra dele e achou bem interessante, embora não tenha achado que foi o máximo como a amiga da minha amiga achou (entenderam? Se entenderam me expliquem que nem eu entendi bem). Mas voltando ao assunto, achei gostoso ler a entrevista porque ele falou como gente. O que é falar como gente? É quando não estamos nos importando em assumir nossos erros, em nos expor, quando não queremos fazer auto-propaganda, só falamos, por falar aquilo que nos perguntam, simplesmente conversamos, como faríamos com um amigo, contamos podres, falamos besteira, nossos sonhos, essas coisas bobas da vida, que são, no geral, a vida!
Isso faz com que tenhamos vontade de sair por aí pra falar da vida com os amigos, isso dá vontade de Ter amigos e de conversar com eles, dá vontade de se expor, falar besteira...
Tem profissões que não podemos nos dar ao direito de falar besteira, eu por exemplo, enquanto professora, não dá pra falar besteira (embora meus alunos acreditem veementemente que tudo que eu digo não passa de besteira), não dá pra falar da vida (é chato professor que usa a sala de aula pra auto-análise, isso é coisa de sala de psicoterapia, não de sala de aula!), não dá pra se expor (embora eu não saiba falar daquilo que não sou e que não sei).
Percebem como é contraditório isso tudo?
Percebem como essa entrevista me fez pensar?
Acho que é isso que é gostoso, é Ter algo em que pensar...
Professor pra que?
Ando trabalhando muito, aula atrás de aula, mal posso esperar pra chegar sexta a tarde, pra descansar um pouco, afinal de contas conviver com tantos alunos, os mais diferentes possíveis, acaba cansando...
No primeiro dia de aula pedi aos alunos que cada um me desse um motivo por que continuou estudando... a maioria não soube o que responder, nunca tinha pensado nisso, era como se estudar fosse algo como tomar banho ou escovar os dentes, como se fizesse parte da vida e não fosse necessário parar pra pensar sobre isso, afinal de contas "é preciso estudar pra ser alguém na vida" (respondeu boa parte).
Queria saber quem foi que inventou isso?
Quem disse a eles que não são ninguém e que precisam se tornar alguém e que é a escola que faz isso...
Primeiro que a partir do momento que nos entendemos por gente (antes disso até, diria que quando somos concebidos) já somos alguém (nem que seja no imaginário de outro alguém), segundo que a função da escola deveria ser a de instruir auxiliando a melhora da educação que vem de casa, mas seu papel real é educar, desde a instrução até ao traquejo moral e social, pois os pais se eximiram dessa responsabilidade.
Segundo que o mundo e, principalmente, nosso país está cheio de universitários e graduados em faculdades desempregados, gente competente, pensante e desvalorizada pelo mercado (vide Reinaldo!)
Então estudar pra que?
O conhecimento há muito deixou de ser um fim em si mesmo, hoje o tratam como meio pra atingir objetivos, no geral materiais, dinheiro!
Para os alunos estudar, isto é, frequentar a escola, é uma maneira agradável de passar o tempo, longe da família, porque os pais geralmente "enchem o saco", junto com os amigos que tem objetivos iguais (zonear).
Para o governo é um modo de estar de bem com sua consciência, afinal de contas o Brasil sobe a cada ano no conceito internacional como país que está erradicando o analfabetismo, embora a maioria dos alunos não saiba ler, no sentido lato do termo.
De resto me pergunto e professor? serve pra que?