quarta-feira, agosto 03, 2022

Sonhos, Palavras, Humanidade

 Ontem foi a aula inaugural do Mestrado. É um sonho que esperei por tantos anos para finalmente acontecer e, confesso, não imaginei que aconteceria agora, desse jeito, no que eu quero,, Imaginei tantas vezes isso mas nunca desse jeito. 

Na apresentação eram praticamente só médicos, 2 enfermeiros e 1 fonoaudióloga, todos trabalham em hospital, todos cuidam dos pacientes de modo ativo, tem cargos importantes, experiência na área, cada colega que falava eu ficava admirada e quando fui me apresentar me senti até envergonhada, aliás não sei se foi vergonha de fato ou se foi medo de estar ali no meio de tubarões sendo apenas um peixinho...

Então hoje eu acordei pensando no meu papel enquanto Psicóloga, no meu projeto de mestrado,  tentando encontrar alguma importância nisso para justificar minha estadia junto aos Tubarões.

Lembrei de uma postagem do Instagram comentando sobre a visão de alguns pacientes sobre os Psicólogos serem "aqueles que falam", lembrei da minha experiencia no hospital, o pedido da médica para conversarmos com a paciente que não queria colocar a sonda nasogástrica, lembrei da Psicanálise que propôs a cura pela palavra e de ler o Simonetti orientando: a função do Psicólogo Hospitalar é escutar... escutar... escutar... E de repente me perdi na fonte da mente, da procura pelo saber, do amor pelo conhecer e percebi que sou um peixinho bem esperto, porque todos os meus colegas são Tubarões no que fazem e eu sou o peixinho que vai garantir que eles continuem fazendo isso com excelência, esse é meu projeto auxiliar os Tubarões a suportar nadar nesse mar de dor, de humanidade.

Porque a palavra, o falar e o ouvir é aquilo que nos faz humanos, que nos confere a humanidade, simbolizar, permitir sentir ...É pra isso que estou lá no mestrado!!


domingo, junho 19, 2022

Aprovação

 Há provas que a gente não quer ser aprovado, você quer ficar abaixo do mínimo e ter resultado negativo.

Testei positivo para covid...

Foi tardio, estou vacinada, os sintomas fracos foram dor no corpo, dor de cabeça e tosse já o sintoma forte foi o isolamento.

Começou ontem, um dia de isolamento e já quero sair correndo desse quarto e gritando pelo mundo e abraçando as pessoas.

É uma sensação estranha essa do isolamento, parece castigo no entanto é ainda pior, porque no castigo se você desobedecer normalmente é você quem sofre as consequências e nesse caso se desobedecer outras pessoas vão sofrer as consequências.

Isso me lembra de uma fala minha sobre alguém que não tem tempo de cuidar de si mas sempre cuida dos outros, é estranho isso, você fica doente e não vai ao médico e não tira tempo para você mas se quem você ama ficar doente você tira tempo e leva ao médico e cuida do outro porque afinal você o ama e o auto-amor?

O auto-amor, a auto-convivencia, o importar-se consigo mesmo, cuidar de si como se fosse a pessoa que você mais ama na vida.

Eis que achei meu objetivo pros próximos dias, ficarei isolada mas não sozinha, estarei na companhia de alguém que amo e admiro e vou cuidar dessa pessoa que amo muito bem, vou conviver com ela e dispensar os melhores cuidados, vou conversar com ela, saber o que ela quer, conhece-la um pouco melhor e amá-la intensamente esses dias, já é hora de amar-se!!

segunda-feira, junho 06, 2022

O corpo fala

 O corpo fala mais de nós mesmos do que imaginamos.

Muitas vezes, inclusive, o corpo fala não apenas de nós mas fala por nós!

Eu sei quando estou feliz porque me olho no espelho e me acho linda, admiro meu cabelo, de certo modo ele reflete minha coragem, minha maturidade, minha auto-estima, não me acho velha por ter cabelos brancos, eles se manifestaram em mim e eu os acolhi, me sinto generosa por isso!! Embora alguns dias eu me olhe no espelho e não me reconheça, me acho feia, é como se essa não fosse eu, amarro o cabelo e fico com a fisionomia triste.

Minha fisionomia sempre foi um problema, não sei fazer cara de feliz se estiver triste, nem cara de triste se estiver feliz e dizem que minha cara de sarcástica é fatal. 

Amo ironias, me identifico com esse tipo de humor ácido que fere apenas se houver inteligência suficiente para ser compreendido, ainda que às vezes me acusem disso sem eu me dar conta da minha cara de irônica e jure inocência afinal não consigo me ver o tempo todo, será de bom tom carregar consigo um espelho (interrogação)* Seria isso encarado como narcisismo, será que alguém nesse mundo que vivemos, predominantemente voltado para a imagem, pensaria que um espelho é simples artifício de autoconhecimento (interrogação)*

Para não ser mal compreendida me desconheço.

O outro, o outro, o outro.

Sempre o outro.

O outro como desculpa, como entrave, como referencial, contraditor, espetáculo, represador de mim...

Estou farta do outro, quero aquele que me habita, me acolhe, me entende, aquele que amo ou deveria amar, aquele que vive cada segundo comigo e não me abandona mesmo nos piores momentos...

Meu corpo clama mudanças.

Está cansado de tentar preencher o vazio com comida, com validações...

Eu faço tudo ao mesmo tempo, eu quero tudo ao mesmo tempo, não quero perder nada e acabo perdendo o foco.

É como se escolher não fosse pra mim, como se meus braços fossem grandes o suficiente pra dar conta do Universo igual Deus.

Eu sei, não sou Deus, tenho de aprender a escolher, decidir, limitar... 

O corpo tem limites, me cobra limites, me impõe limites...

é o danado do desejo que não entende isso!!


terça-feira, maio 17, 2022

Amor de mãe

    Ser mãe não fazia parte dos meus planos originais, eu queria mais, queria seguir uma carreira acadêmica, fazer mestrado, doutorado, ter uma vida independente, não depender de ninguém e isso envolvia ninguém depender de mim. Hoje eu sei como era tola nessa época porque eu queria muito menos do que tenho hoje.
    Aconteceu que um dia eu comecei a acordar feliz, não é que antes eu não gostasse de acordar eu até gostava mas havia uma certa falta de sentido o que me deixava triste e quando comecei a acordar feliz eu não entendi nada.
    Quando reportei ao médico o fato de ter algo errado comigo, ele me disse que acordar feliz, na verdade, era mais certo que errado e me pediu vários exames inclusive de gravidez, eu devia ter ficado chocada ou desesperada ou sei lá o que, mas eu achei aquilo tão mágico, pensar que tinha um ser se desenvolvendo em mim e que desde agora eu me sentia feliz, era como o prelúdio de um mundo novo, desconhecido, um mundo que fazia mais sentido do que tudo que eu havia vivido até então, mais sentido que as aulas do professor Castilho e que as teorias de Freud e tudo que eu conhecia e amava até então.
    E assim foi, em uma semana após a concepção que se deu no dia de São Jorge, arquétipo de proteção e força, eu já sabia que toda minha vida seria diferente.
    Mariana nasceu em dia de Reis outro arquétipo muito significativo, foi um presente ao divino que me habita.
    Não foi fácil ser mãe, eu me sentia despreparada, nunca sabia se estava fazendo a coisa certa, às vezes me cansava de cuidar e isso me fazia sentir culpada e então eu comprava coisas pra me sentir uma mãe melhor e eu trabalhava mais e mais pra comprar mais coisas e me sentir uma mãe melhor. 
    Depois vieram momentos difíceis, separação complicada, depressão... e ela era tão pequena, tão frágil e eu não soube muito bem como lidar com tudo, eu me sentia mais pequena e frágil que ela e de repente ela se tornou maior e mais forte que eu porque foi por ver esse ser tão pequeno e frágil sendo forte e grande que eu me reergui, que eu continuei, que eu me lancei à vida.
    Os anos passaram lépidos, a infância passou e eu ria quando me diziam pra aproveitar, eu achava que ia demorar muito pra acontecer.
    Dois dias que me fizeram cair na real foram o aniversário de 12 anos, sim os doze anos foram marcantes pra mim porque ela sempre me pedia maquiagem, afinal as crianças da escola usavam e eu não concordava com aquilo imagina usar maquiagem aos 7 anos... então dizia que quando ela fizesse doze anos eu deixaria ela usar e de repente chegou os doze e eu ainda achava um absurdo porque ela ainda era criança e eu me arrependi de não ter dito 20 (talvez eu soubesse que vinte era demais mas 12 me parecia de menos agora que ela tinha doze) enfim eu tinha dito isso por 6 longos anos para ela e 6 ligeiros anos para mim, comprei uma maleta de maquiagem pra ela e talvez tenha sido o melhor aniversário dela.
    O segundo dia foi esse de há alguns dias que eu soube sempre que chegaria, eu desejava que chegasse, foi bom que chegou, estou aprendendo muitas coisas com ele ainda, o dia de ir morar fora e fazer faculdade.
    Sim eu vivi isso e foi bom pra mim, espero que seja bom pra ela também, são desafios diferentes que se vive, uma época de fazer amigos, de pensar no futuro e se planejar pra ele. Tenho medo das coisas ruins que possam acontecer com ela afinal eu não estou ali pra proteger, pra saber o que está acontecendo, pra tomar conta.
    Eu sei que ela está bem, eu sei que ensinei boas coisas, eu sei que a vida é dela e os desafios são dela e as decisões também são dela, eu sei de tudo isso e tento pensar que fazer escolhas erradas fazem parte de viver e aprender, embora eu torça pra ela realizar as melhores escolhas e confiar nas pessoas certas e me procurar quando não souber o que fazer ou procurar alguém que ela confie de verdade.
    Crescer dói e não dói só na gente, dói também nos que amamos, porque eles tem de nos deixar crescer e isso, de certo modo, também é uma dor.
    Amor de mãe é assim: confuso, estranho, intenso, doído, no entanto é o amor melhor e maior, infinito e eterno, aquele que a gente pode contar em qualquer tempo e espaço, aquele que a gente leva com a gente pra sempre.

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sábado, setembro 25, 2021

REGRAS DE CONVIVÊNCIA

 Me mudei pra uma rua maravilhosa, natureza exuberante, vizinhos super atenciosos e logo me colocaram no grupo de whatsapp.

Um mês depois a vizinha da frente começou a me enviar mensagens no privado falando que minha cachorra latia muito e me aconselhou a comprar uma coleira que dá choque quando o animal late e de lá pra cá as regras vem sendo colocadas no grupo de maneira muito clara, segue as que entendi até hoje:

Pode ter cachorro mas o cachorro não pode latir.

Pode ter gato mas o gato não pode miar, nem andar na rua.

Pode ter alarme na casa ou no carro mas se ele tocar você tem de desligar imediatamente (mesmo se você não estiver em casa) para não atrapalhar a vizinhança.

Pode ter árvore mas as árvore não pode cair as folhas.

Não pode cortar árvore.

Pode fazer festa desde que os convidados sejam da associação de surdo-mudos.

Pode ter fossa em casa mas ai se a fossa feder...

Tem uma árvore na rua mas nunca estacione seu carro ali porque a vaga é vitalícia de um morador da rua.

E para estacionar o carro na rua sem que a polícia seja chamada você tem de dizer quem é, de onde veio, o que está fazendo aqui, quanto tempo vai ficar e provavelmente logo logo vão postar no grupo uma ficha completa para você preencher....

ah minha vizinhança é maravilhosa!! é uma rua muito tranquila, uma natureza exuberante!!!


quinta-feira, setembro 17, 2020

Onde está Wally? Onde está você? Onde estou Eu?

 Onde está Wally?

Onde está você? 

Onde estou eu?

De repente surge em meio ao caos, à bagunça, figuras sobrepostas, dispostas nos mais variados matizes ocupando espaços vazios porque o vazio é dolorido e Wally se esconde no meio de tanta bagunça, de tanto caos pra não sentir o vazio que o rodeio...

ah o vazio... sempre foi o vazio e o medo de ser engolida por ele, de pertencer a ele, nadificar, como se o não-ser estivesse ali à espreita apenas esperando a hora de dizer "você e eu somos um".

Wally quer ser encontrado mas se camufla, quer ser visto mas pelos olhos certos, pelos motivos certos, os desatentos não o percebem, os que apenas passam os olhos não o vêem, ele quer ser olhado, procurado, encontrado, mas por quem? 

Encontrar Wally é o objetivo do jogo, no entanto quando o objetivo é alcançado o que resta?

Qual objetivo vem após o objetivo?

Wally já pensou nisso? que quando ele é encontrado acaba o jogo?

Wally o que você quer? por que se camufla? por que se esconde? que vazio é esse que precisa ser preenchido com tantas coisas juntas?

Esse caos te dá sentido? Essa bagunça te justifica?

E o que me justifica? o que me dá sentido? 

Será que é pelo medo de ver o nada? ou de descobrir que o nada nao existe? será que é medo do jogo acabar? 

E se de repente a gente encontrar Wally e o jogo não acabar? E se for só o começo?

E se depois do começo "o que vier começar a ser o fim"?

Eu me digo e me contradigo, me escondo e me revelo, porque sou sem ser e quando não sou é quando verdadeiramente estou sendo.

Mas esse vazio, sim esse vazio que precisa ser incessantemente preenchido... ah esse vazio, talvez seja isso Wally que tenhamos em comum, não nos escondemos, temos apenas necessidade de preencher o vazio que nos cerca.

segunda-feira, maio 13, 2019

Direitos Humanos

Não gosto de me envolver em questões políticas, principalmente as questões polêmicas. 

Sendo de formação esquerda, e vejam que a formação esquerda não significa que se apoie corrupção ou corruptos ou que se queira um país a lá Hugo Chaves, só as pessoas muito ignorantes para pensar assim, sem conhecimento das belíssimas teorias de ideal de justiça. 

Sim, justiça, porque sou cristã e pra mim Cristo foi o maior Humanista de todos, e todos os que me inspiram também foram humanistas. O problema do comunismo e do socialismo é que não estamos preparados para ele, na sociedade em que vivemos e do modo que pensamos o sistema mais justo é realmente o capitalismo.. No entanto eu creio que daqui há alguns milênios quando formos mais humanos não haverá distribuição tão desigual das riquezas e das oportunidades, os fortes vão amparar os fracos e todos vão dar o seu melhor em prol da sociedade.

Quando formos mais humanos eu dizia, porque Humano é um conceito muito mas muito importante, principalmente se você se propõe a ser Ministro dos Direitos Humanos... Uma vez que seu conceito de Humano seja equivocado você defenderá o direito de grupos específicos dentro do conjunto de Humano que certamente vai além da compreensão dessa Ministra específica... e o que mais me chateia não é ela falar besteiras, o que me chateia de verdade é ela basear as besteiras que diz na religião. 

Por muito tempo as religiões moldaram nossas atitudes nos escravizando em conceitos formais destituídos de conteúdo Divino, não precisamos mais disso! Que a religião nos liberte, nos faça compreender melhor o que significa SER HUMANO, porque esse "humano" que essa ministra advoga os direitos é em letra minúscula e não tem H, portanto está errado, não serve pra nós que já somos livres o suficiente para compreender a grandeza divina, para aceitar as escolhas alheias e para pensar em contribuir para uma sociedade melhor e mais justa, não excluir dela os que não são exatamente como nós, isso é narcisismo não humanismo!!

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