Temperos
Tem vezes que a vida da gente fica tão sem graça que nem dá vontade de ficar contando.
O que é bom de contar é aquilo que é grandioso, seja bom ou ruim. Por exemplo se uma comida está muito gostosa dá vontade de comentar e se está muito ruim também, agora se está normal e é sempre normal então é normal que não se comente, que apenas se coma, normalmente...
Óbvio que existem exceções, por exemplo, Neruda certa vez escreveu uma poema denominado "Ode à cebola", sempre que o leio fico emocionada, o poema todo é dedicado e sobre a cebola (cebola cebola, dessas que a gente corta e usa na cozinha mesmo), coisa tão comum, tão banal, quem pensaria em fazer um poema à cebola?
O amor, a morte, a vida, esses são temas grandiosos, temas recorrentes na literatura e no pensamento, mas... a cebola?
E é exatamente isso que me emociona neste poema, essa falta de pretensão, essa simplicidade, isso de transformar o cotidiano em algo extraordinário, porque até então ninguém tinha dito "e quando te corta a faca na cozinha nasce a única lágrima que não nos aflige". As pessoas choram cortando cebola e sabem que é um choro sem aflição, porém Neruda disse isso quando ninguém antes tinha dito, ele conferiu a esse simples fato um status qualquer.
Ás vezes eu sinto isso quando a Mariana sorri e é só um sorriso de criança, como milhares de outros sorrisos de criança, no entanto esse sorriso, extamente esse que não tem nada de especial enche meu peito de ternura e faz vibrar as cordas do meu coração. Outras vezes enquanto passo as mãos pelos cabelos do Reinaldo fico a imaginar como a vida é simples e que não há de se complica-la porque nada existe além do momento presente. E quando minha avó me liga e me chama de Shirlinha eu fico a cismar como somos frágeis n'alma, pois embora adultos, marmanjos, sentimo-nos bem ao ouvir, como quando éramos crianças, nosso nome no diminutivo.
Há milhares de momentos banais que me fazem bem lembrar, meu irmão falando comigo, deitado na cama, ouvindo minhas filosofias enquanto o sono não vinha (conheci meu irmão tão tarde na vida, em criança não se conversa muito, só quando a gente cresce que a gente conversa, de fato), minha irmã toda avoada enchendo a casa de alegria e extravagância, às vezes enchia o saco, mas dá saudade, ainda mais depois da sobrinha que é uma menina linda!
Os pais! Nossa dos meus pais lembro muitas coisas, nem todas boas, claro, mas muitas lembanças meigas. Por exemplo no natal meu pai colocava uma cadeira ao lado de cada cama e como éramos pobres ele comprava pra cada um dos três filhos um refrigerante pequeno, um bombom e um brinquedinho (bem baratinho) e colocava em cima da cadeira. Pela manhã que surpresa! Sabíamos que não era grande coisa aquilo, mas era uma coisa tão grande!!!!!!!! Ele dizia que era papai noel que tinha trazido e acreditávamos, embora não acreditássemos!
E minha mãe é tão coruja, sempre gostou de falar bem dos filhos pra todo mundo, coisa de mãe, ela acha que somos os melhores filhos do mundo, embora não sejamos tão bons assim, mas no coraçãozinho somos, e quem vai convencê-la do contrário?
Tem também os amigos... mas acho que não devia citar nomes, que é pra não ser injusta, se falar de um tem de falar de todos, isso porque todos os meus amigos são muito ciumentos, se todos se encontrassem numa festa eu não ia poder ir, ou ia ter de falar com todos ao mesmo tempo! Como diz uma amiga, amigo de verdade é aquele que te recebe de madrugada com um sorriso nos lábios!
Tantas lembranças me deixaram esses todos que conviveram comigo...
Agora estou meio sozinha, não tive chance de fazer amigos, estou meio isolada, não sei, talvez eu tenha virado mãe!
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA, será que foi isso??????
Meu deus!!!
Será que agora que sou mãe vou ser como todas as outras "mães"??????
Ai deusinho por favor não faz isso comigo não!!!!!!
Tenho lembrado muito da música da Elis "minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo, tudo que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais", será?
Eu sei... eu sei... a vida não é receita de bolo, mas e se a vida for o bolo????????
Se for tá ferrado porque então não importa que ingredientes usar vai sair bolo no final...
Ora ora, vejam vocês a que ponto chegamos, de Neruda a Bolo.
Melhor parar de blogar senão daqui a pouco sabe-se lá de que se falará.
quarta-feira, outubro 22, 2003
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