domingo, junho 22, 2014

Doenças x doentes

Há tempos não ficava doente, então de repente senti um mal estar tão grande, uma dor de cabeça e senti as pernas pesadas como se eu não pudesse caminhar, como se eu tivesse de parar imediatamente. E foi isso que fiz, sai do trabalho e vim pra casa, tomei remédio pra dor de cabeça e dormi, acordei e a dor acordou comigo, tomei mais remédio e assim sucessivamente... Lembro-me que quando a Mari era bebê eu morria de dó de segurá-la pra dar vacina, ela chorava e de repente parava de chorar, porque os bebês só choram enquanto sentem dor, chorar sem dor é coisa de adultos. Reluto muito em ir ao médico, primeiro porque sempre acho que posso dar um jeito eu mesma, depois porque acho os médicos um bando de incompetentes, ao menos os plantonistas. Só que quando a dor nos impede de agir é o que podemos fazer, procurar os recursos necessários e curar-se. Depois de uma bezetacil e de remédios pra dor me sinto tão melhor!! Tão melhor que penso: devia haver remédios pra tudo na vida, pra dor de cotovelo, pra dor de traição, pra fazer a gente esquecer as mazelas do mundo, pra ensinar a gente a perdoar... seria tão mais fácil se os males morais possuissem remédios orais. Eu tomaria de bom grado uma injeção que me fizesse perdoar. Mas os males da alma... ah esses males não são como doenças, esses males são como doentes, vivem em nós, habitam-nos, tirando-os que sobra?? muito pouco... Enquanto ardia em febre na cama me lembrava de Sartre e sua teoria existenciallista (pareço louca eu sei, quem pensa em Sartre ardendo em febre??) e pensava em como nossas escolhas nos angustiam em como vivemos e somos o fruto delas. E eu imaginava o Monsieur Sartre conversando comigo num café parisiense, todo galante, me dizendo acerca do vazio próprio ao ser humano: "veja bem mademoseille ainda que tenhas alguém que te pertença, ainda que os corpos se unam em perfeita comunhão és só, nasceste assim, morrerás assim, podes enganar-te por um tempo no entanto a vida, ou a morte se encarregará de mostrar-te o quão solitários somos nós enquanto humanos, não se angustie, aproveite os corpos que comungam contigo os prazeres carnais, aproveita as almas mas lembra-te sempre, és só". Ele me fitava de um jeito e eu temi suas palavras mais ainda por vislumbrar alguma verdade naquele meu delírio. As doenças tem disso, nos fazem valorizar a saúde. E que haja vida em abundância até o fim dos tempos, porque as doenças passarão e os doentes um dia recuperarão a saúde.

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